Tratores auxiliam barcos na pesca do camarão na Praia do Farol
O Globo Mar foi ao litoral norte do Rio de Janeiro para falar de um dos reis dos mares, um rei dos pescados. Até parece um bicho enorme, mas, muitas vezes, ele não tem mais do que 20 centímetros. Estamos falando do camarão. As pessoas adoram esse bicho ao redor do planeta e, por isso, o camarão é um dos frutos do mar mais cobiçados e mais rentáveis, um item importante de exportação do nosso país. Por isso, fomos a Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio, porque lá ele é pescado de forma única, que envolve inclusive o uso de vários tratores.
Adicionar legenda |
Nossa aventura começa na Praia do Farol de São Tomé. No local, não
tem plantação, mas trator é o que não falta. As máquinas são os grandes
aliados dos barcos. Eles trabalham juntos há mais de 30 anos na pesca
artesanal do camarão. É que, na praia, não tem porto nem outro lugar
para um barco atracar.
Durante muito tempo, os pescadores da Praia do Farol só podiam usar
canoas pequenas, que eles mesmos empurravam perigosamente através das
ondas para trabalhar. Até que um dia surgiu uma ideia simples e ousada:
usar trator para puxar e empurrar as embarcações do mar. Não é que deu
certo? Na hora de os barcos voltarem do mar, a praia vira um
estacionamento de tratores. Em média, 150 barcos estacionam na Praia do
Farol de São Tomé.
O tratorista Thiago Henriques revela que recebe R$ 50 por ‘puxada’:
“Tem dia que que estaciono 30, 40, 100 barcos. Eu recebo por puxada.
Custa R$ 50 para colocar, tirar e levar o camarão, para fazer todo o
serviço”. A gorjeta do ajudante que engata o cabo do trator no barco é
um balde de camarão.
No outro dia, acordamos cedo para continuar a nossa aventura na pesca
dos camarões, nos deparamos com uma manhã surpreendentemente fria para
o litoral fluminense, com vento e um pouco de chuva. O movimento no
mercado está meio devagar. “Eu acho que é a única operação nesse
sistema. Ela foi inspirada no carro de boi, mas o pessoal nosso é daqui
do interior de Campos que trabalha muito com carro de boi na época do
corte de cana. E foi na entressafra que os nossos parentes vinham aqui
para a praia pescar”, conta o presidente da colônia de pescadores,
Rodolfo Ribeiro.
O sol aparece e, desta vez, o repórter Ernesto Paglia cria coragem e
embarca em um dos barcos empurrados pelo trator. Quando nos afastamos
da praia, os pescadores começam a preparar as redes para o arrasto. Eles
usam uma bem malha fina para pegar um bicho tão pequeno. Depois de uma
hora e pouco, cerca de 40 quilômetros da costa, já não dá para ver mais a
terra. Então, começa a operação. Os tangones mantêm as redes afastadas
do barco. E fazer esse arremesso exige uma técnica. Por isso, é preciso
cuidado.
O mestre do barco é o encarregado de manter o motor do barco na
velocidade certa para abrir a rede. Se ele puxar muito depressa, pode
arrebentar ou fazer com que a rede não encoste no fundo, fique
flutuando. E o camarão fica lá no fundo, caminhando. Por isso, é preciso
uma rede de arrasto. Por isso o nome: tem que arrastar no fundo do mar
para pegar o camarão. Cada arrasto dura entre uma e duas horas. E os
pescadores passam até 12 horas no mar.
“Junto com o camarão, vem uma grande quantidade de outros pescados
que a gente a gente chama de fauna acompanhante. A embarcação de camarão
tem licença para capturar isso. Não é uma pescaria ilegal, mas o
problema é que muito dessa captura não tem importância comercial. Então,
acabam morrendo”, explica o professor Marcelo Vianna, biólogo da UFRJ e
consultor do Globo Mar. “É uma forma eficiente de pescar, mas é uma
forma predatória também. A pescaria mundial de camarão tem uma relação
de um para dez. O que isso quer dizer: para cada quilo de camarão que é
desembarcado chega a se matar dez quilos de outros organismos que são
jogados fora no mar. Então, a mortandade que essa pescaria causa é muito
grande. E isso compromete pescarias futuras também”, aponta o biólogo
da UFRJ.
Terminada a pesca, voltamos para a praia. E mais uma vez os tratores
estão a postos esperando por nós. Eles avisaram para os tripulantes se
segurar, porque, quando o barco pega na areia, o baque não é suave.
Depois, ele estaciona. E no fim da aventura, a equipe do Globo mar ainda
aproveita um prato delicioso: camarão no bafo, para abafar a adrenalina
dessa aventura. Mas já estamos prontos pra próxima, neste mar de
surpresas.